Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




segunda-feira, 3 de julho de 2017

Ponte de Lima e o futebol.



O desporto na vila, foi nos anos 20, animado pelo Triunfo e pelo Lusitano.
Mais tarde (1932) estes vão juntar-se, e daí nasce o Ponte de Lima Sport Clube.

Em 1938 este clube reformula-se e adopta a designação de Sporting Clube Limarense.
Mas o futebol no distrito haveria de fechar portas, mercê das orientações do Governo de então. Estávamos em 1943, e somente 30 anos depois ele voltaria.

Mas o panorama desportivo da vila foi muito mais mexido. Os que atrás referimos são aqueles que deixaram o nome na história do futebol federado.
Mas muitos mais houve, contudo.

Comecemos pelo princípio.

O “Rio Lima” é um dos muitos jornais que aqui se publicaram. É com ele que vemos a partir de 1922 como era por aqui o futebol. Os clubes de então eram essencialmente formados por jovens, que tinham sempre em vista alugar instalações para implantar a sede, onde através dos bailes gerassem receita para manter o clube. Que jogava futebol. Era a essência. Periodicamente faziam eleições, escolhiam dirigentes, mas no resto eram muito volúveis. Por isso o proliferar de clubes.

Mas eram muito activos. O jornal Cardeal Saraiva diz, em 13 de Agosto de 1922, que o Limiano Foot-Ball Club foi a S. Julião do Freixo jogar com o Freixoense, e perdeu 3-2, mas o jornal atribui tal facto ao número de árvores que há no campo, o que o torna impróprio, e não à falta de “association” dos player’s de Ponte de Lima!
Já se pode ver de que futebol estamos a falar.

O Limiano Sport Clube ressurge das cinzas do Limiano Foot-Ball Club em 1923. Assim o afirma o Rio Lima na sua edição de 11 de Fevereiro. A data precisa terá sido 6 de Setembro, como dá conta o Cardeal Saraiva (11 JAN 1923).

Mas já então existia o Lusitano Foot-Ball Club, pois o mesmo jornal diz que no domingo anterior a esta sua edição de 11 de Fevereiro de 1923, jogaram este novo Limianos com o Lusitano, que venceu por 1 a 0.

Mas neste ínterim alguns integrantes do novo Limianos juntaram-se aos do Triangulo Foot-Ball Club, e daí surgiria o Lehtes Foot-Ball Club de Ponte de Lima (ver Rio Lima 19 AGO 1923).
Mas já então o jornal falava, uma vez por outra, de outro clube da terra: o Vitória Foot-Ball Club.

Aqui chegados, perguntamo-nos:
- mas com tantas equipas, onde se joga?

É ainda o jornal Rio Lima que nos “explica” a 30 de Agosto de 1925, quando com pompa e circunstância nos dá conta da visita do SC Valenciano, para jogar um amigável com o Lusitano, e diz que será no campo da Feira do Gado. Posteriormente até, falando do jogo já realizado, diz que a enchente foi total!

Mas o sítio não era adequado, por todas as razões, e o jornal dá conta da intenção de um grupo de entusiastas que se propõe construir um campo de futebol em Ponte de Lima. Estamos em 1926 (edição de 28 de Fevereiro), e o jornal tece grandes encómios aos obreiros de tal pretensão, que considera uma arrojada iniciativa.

O que é facto é que se concretizou. E até foram 2 os campos! E o que é mais relevante, é que os campos existem ainda, e foram reabilitados pela autarquia, que honrou os seus.


Mas falemos do então. O jornal Rio Lima vai falando frequentemente dos campos em construção, que serão o campo do Cruzeiro do Lusitano, e o campo de S. João da Ribeira.
(ver edições 13 e 20 FEV, 27 MAR, 10 ABR, 22 MAI, 5 e 12 JUN de 1927)

Finalmente surgem as inaugurações, com todo o brilhantismo e orgulho dos clubes.

O Triunfo inaugura o seu campo de S. João em Março de 1927, tendo convidado o Vianense e o Boavista.
Já o Lusitano preparou o mês de Junho para inaugurar o seu campo do Cruzeiro, com a presença do Salgueiros e do Braga.


Agora já havia onde jogar futebol, sem perturbações e intervenções policiais.

Surgem depois as tentativas de fazer um grupo forte, com a fusão do Triunfo e do Lusitano, que dão origem ao Ponte de Lima Sport Clube. Mas este, cedo mostra quão difícil é a sua vida, e por isso que logo alguns se aprestem a reformular o clube. É daqui que vem o Sporting Clube Limarense, o de duração mais consistente, até que se dá a extinção da associação distrital. Ainda tenta o clube sobreviver, filiando-se e competindo em Braga, mas não resistiu aos gastos, e também à má vontade dos clubes do distrito, que se diziam prejudicados.

Em 1939 surge uma nova e também efémera equipa. Ela advém de litígios no seio do Limarense, e embora as referencias que se encontram não sejam muito consistentes, permite contudo aferir deles.
O comunicado publicado no Cardeal Saraiva de 27 de Abril de 1939 (pg 3), dá disso conta. Por tal que logo em Maio (25 MAI, Cardeal Saraiva), se faça no campo do Cruzeiro um jogo entre este novo Lusitano, que ressuscitava a memória do pioneiro Lusitano, herdando-lhe até as cores, que eram o vermelho e o branco, com o vizinho Sporting Arcoense.
Foi curta a vida deste clube, que logo ao fim da 1ª volta do campeonato 39/40 oficia a AF de Viana a comunicar a sua desistência.
Creio contudo, que o Vasco da Gama que havia de aparecer mais tarde, em 1942, e que concorreria ao último campeonato distrital, tinha muito deste Lusitano Sport Clube de Ponte de Lima, que era assim que se apresentavam.

Mas gente de têmpera não desiste à primeira, e por isso oito anos depois surgia aquele que ainda hoje representa a vila de Ponte de Lima, levando longe o nome do seu concelho:
Associação Desportiva Os Limianos, activa e pujante, à beira de reflectir os 100 anos de querer e persistência destes minhotos de fibra!




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